A arquitetura habitacional de interesse social no Brasil, tem se caracterizado por conjuntos repetitivos, monótonos, com pouca ou nenhuma integração com a infraestrutura urbana e seus serviços, além de utilizar métodos construtivos de baixa replicabilidade e industrialização, e com altos índices de desperdício de materiais, além da baixa eficiência energética e conforto ambiental para seus moradores.
A resposta a essa demanda passa sem dúvida pelo conceito de “Habitação Sustentável”, considerando que todo o ciclo de vida da construção, da extração da matéria-prima à execução, passando pela ocupação, e o possível deslocamento, reforma ou demolição, são fases fundamentais na utilização responsável dos recursos naturais, e consequentemente a qualidade da edificação para o usuário e para a cidade enquanto cumpridor de sua função social.
Para vencer esse desafio, a ARQUITETURA MODULAR se apresenta como a melhor solução, sendo um processo construtivo industrializável, replicável e adaptável. Suas características de fabricação e transporte possibilitam os usos de recursos naturais renováveis e configurações para uma arquitetura com sustentabilidade ambiental e eficiência energética.
Viabilidade econômica
A sustentabilidade econômica é parte fundamental de qualquer programa habitacional voltado para a população de baixa renda. A arquitetura modular possibilita a padronização e replicabilidade que permite a redução dos custos de construção.
Técnica construtiva
Nossa proposta considera a criação de módulos de UH pelo conceito de arquitetura modular. O sistema estrutural adotado proporciona leveza e resistência, com pilares e vigas em perfis de aço galvanizado e lajes em CLT (Cross Laminated Timber) com estrutura mista de concreto. Os módulos estruturais são montados na fábrica, juntamente com as paredes em painéis OSBi (núcleo de EPS com fechamento em placas de aglomerado OSB). As instalações elétricas e hidráulicas também são executadas na fábrica, sendo finalizados no local da obra apenas as instalações de louças e metais, revestimentos de pisos, paredes e bancadas.
Implantação
O conjunto foi concebido como um edifício único ocupando as bordas do terreno e abrindo espaço para os pátios, onde ficam as circulações verticais, praças, quadra poliesportiva e estacionamento. A construção em módulos possibilita o escalonamento do edifício e fácil adaptação do conjunto a qualquer topografia. As duas áreas de pátio definem a transição entre público e privado, sendo que um dos pátios é aberto para a fruição pública e o outro é reservado, com acesso controlado. A área de fruição pública oferece uma praça que se integra visualmente ao conjunto e oferece lojas no térreo, para que a fachada sul, voltada para a avenida, seja uma fachada ativa, com a movimentação do uso comercial.
Organização do conjunto
Os módulos de UH empilhados são dispostos considerando sempre a melhor orientação solar para os quartos, e os brises são compostos principalmente por elementos horizontais nas fachadas Norte e Sul, e por elementos verticais nas fachadas Leste e Oeste. Para a implantação na Zona Bioclimática 8, de latitude 5º Sul, os brises horizontais da fachada Sul precisam ser maiores que os da Zona Bioclimática 3, de latitude 30º Sul, pois a trajetória do sol no solstício de verão é mais baixa, exigindo maior proteção horizontal sobre as aberturas.
Acessibilidade e mobilidade
O conjunto apresenta dois acessos para veículos. O acesso pela fachada Oeste, é destinado aos pedestres, ciclistas e veículos de moradores, com acesso ao estacionamento de 40 vagas para carros, e área para micro-ônibus e vans. As vagas para motocicletas e bicicletário completam o conjunto. O acesso pela fachada Leste, é destinado à doca, para acesso de caminhões de lixo e transportes em geral. A acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida é garantida em todo o conjunto, com várias Unidades Habitacionais no nível térreo, sendo que todas elas são projetadas de acordo com as normas de Desenho Universal, com portas de 80 cm e áreas para giro de cadeira de rodas.
Ecoeficiência e conforto ambiental
As estratégias de iluminação e ventilação natural foram adotadas como fundamentais para o conforto do usuário. Além disso, a redução da carga térmica é feita por sistemas eficientes de painéis que proporcionam a devida inércia térmica e por um sistema de cobertura eficiente, composta pela laje em CLT e concreto, e pela cobertura verde com substrato vegetal e grama. Essa cobertura verde faz a captação de águas pluviais e a direciona para os reservatórios inferiores, onde, juntamente com a coleta de águas cinzas, pode ser tratada e reutilizada nas atividades de limpeza e irrigação dos jardins. Coletores solares fazem o aquecimento de água e o armazenamento de resíduos sólidos utiliza os processos de coleta seletiva e reciclagem.
Madeira como protagonista
A madeira ganha destaque na execução dos módulos, com a execução da laje em CLT (Cross Laminated Timber) com estrutura mista de concreto; na composição das paredes internas, com painéis de OSBi, e nas fachadas, com painéis de fechamento em OSB e ripados de madeira. O protagonismo da madeira no projeto, se deve ao fato de que a madeira é o único material de construção estrutural com fonte totalmente renovável, desde que faça parte de programas de certificação, como o FSC, para verificar que os produtos são originários de áreas agrícolas reflorestadas, contribuindo assim para a preservação das florestas e do meio ambiente.